Ontem assisti “O quarto de Jack” (Brasil) ou “O quarto” (Portugal). É um filme (2015) dirigido por Lenny Abrahamson e escrito por Emma Donoghue, baseado em seu livro homônimo. É estrelado por Brie Larson (ganhou o Oscar de melhor atriz pela interpretação de Joy) e Jacob Tremblay (no papel de Jack).


AVISO: temos spoilers daqui para frente.


Jack foi fruto de estupro continuado perpetrado pelo “Velho Nick” durante anos de cárcere privado impingido a Joy, capturada com 17 anos e mantida em uma cabana no quintal, completamente hermética, iluminada por uma claraboia. Jack nasceu ali mesmo e quando o filme começa ele já tem 5 anos.

Chega o momento em que Joy, confiando na capacidade do filho adquirida com a idade, consegue engendrar um plano que os tira dali. Não vou dar mais detalhes a respeito porque não interessa para o tema que quero abordar. Vejam o filme que é ótimo.

Em um momento seguinte, ela dá entrevista exclusiva para uma rede de TV na qual acontece o seguinte diálogo:


Apresentadora: Quando Jack for mais velho, o que contará sobre o pai dele?

Joy: Nada. Não é dele. Um pai é um homem que ama seu filho.

Apresentadora: Isso é muito verdade, mas a relação biológica que teve… (é interrompida)

Joy: Isso não é uma relação. O Jack não é de mais ninguém. Só meu.


Pausa para uma reflexão importante: sistemas tendem ao equilíbrio, mesmo que esse equilíbrio seja doente, disfuncional. Mesmo frente a situações muito dolorosas, independente das ações que sejam tomadas no aspecto legal, a cura efetiva do sistema (equilibrado e saudável) só virá da compreensão sobre como as leis sistêmicas foram violadas, seus efeitos e respectiva cura. Na medida em que avançarmos nos textos sobre as leis sistêmicas, isso fica cada vez mais claro. Para quem tem interesse no tema, indico o artigo “Pais difíceis não deixam de ser nossos pais“, da consteladora Ana Garlet.

A situação trazida pelo diálogo acima nos remete à primeira lei sistêmica de Bert Hellinger: a Ordem de Chegada ou Hierarquia, que diz respeito a quem chegou primeiro na família. Portanto, os ascendentes merecem ser olhados com muito respeito e cuidado, pois foi através deles que a família veio se mantendo.

Quando não aceitamos nossos pais como eles são, todo o sistema sofre. Eles chegaram primeiro e merecem ser respeitados. Quando queremos modificá-los, perdemos força na vida.

Não se trata aqui de perdoar, mas sim de olhar profundamente para esse ancestral e entender que dali veio a sua vida, e nisso todos os pais e mães são perfeitos. Cada pessoa tem sua história e seu destino que não cabe aos descendentes julgar. É importante a compreensão de que aquela história e destino não nos pertence, e desta forma tomar a nossa vida e seguir em frente.

Joy acha que é por amor que não dará conhecimento sobre o pai a Jack. Mas essa não é a atitude que pode trazer cura para Jack e o sistema familiar. Jack só poderá se tornar um adulto saudável se integrar com amor essa paternidade difícil. Vamos conversar sobre os efeitos da exclusão dessa paternidade no próximo texto do blog, olhando sobre o prisma da segunda lei sistêmica.

Já marcou sua conversa sistêmica?

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