Se você ainda não leu o nosso texto sobre o quarto de Jack e a primeira lei sistêmica, é importante efetuar a leitura para entender todo o contexto.


AVISO: continuamos com spoilers.


Em um outro momento do filme, quando a família se reúne para o jantar após a libertação de Joy e Jack, estão presentes, além dos dois, a avó e o avô de Jack e o marido da avó. Nesse período de 7 anos de cativeiro de Joy, o casal se separou e a avó iniciou uma nova relação.

No decorrer do jantar, o avô vai ficando ansioso e decide subitamente encerrar sua refeição e se retirar. Joy percebe que tem algo errado e que ele insiste em não olhar para Jack. Ela pede que ele olhe para a criança, mas ele não consegue e se retira.

Em que mundo de emoções e confusão estava esse avô inserido! Ao olhar para Jack, ele reconhecia o raptor e estuprador de sua filha, afinal o menino é metade a mãe, metade o pai. Quanto da sua própria impotência não estava ali sendo jogada na sua própria face? Que espelho maldito a lhe mostrar o quanto foi um pai incapaz de proteger sua filha de todos os horrores que passou.

E o que faz o avô nessa hora? Exclui. Exclui da sua vida o neto, o pai do neto, a filha.

E é aí que trazemos a segunda lei sistêmica de Bert Hellinger: o pertencimento. Quem pertence ao sistema? Todos pertencem. Os excluídos têm que ser trazidos de volta, pois independente do motivo que os levou à exclusão, eles continuarão tendo o direito de pertencer ao sistema familiar. Isso não significa isenção de repreensões, restrições e até de punições legais. As atitudes dessa pessoa podem diminuir sua credibilidade, confiabilidade e até sua proximidade perante a família, mas nunca o seu pertencimento.

O que é excluído no passado, surge novamente em gerações posteriores, para que a dor possa ser vista e deixada… Assim, todo o sistema se alivia. Para que isso ocorra, alguém inconscientemente se coloca à disposição de sofrer na própria pele para que a harmonia seja reestabelecida. É lógico que, conscientemente, ninguém deseja sofrer. Mas a força do sistema é sempre maior do que a vontade individual.

No caso em questão, a atitude do avô pode fazer com que essa situação se repita no futuro com outros membros da família, ou o próprio evento que aconteceu à Joy pode ser reflexo de exclusões passadas. Mas muitos não estarão prontos para enfrentar essa situação com amor. Com confronto ou esquecimento irão perpetuar o mecanismo, gerando mais e mais violência para os descendentes. Até que, em algum momento, alguém consiga olhar finalmente para todos os lados: o abusador, o abusado e o sistema que os levou a se encontrarem numa situação de ajuste.

Já marcou sua conversa sistêmica?

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