A evolução através das gerações – cada um guarda em si toda a história da humanidade

Charles Eisenstein comenta no seu livro “O mundo mais bonito que nossos corações sabem ser possível” que, em conversa com uma ativista pioneira da contracultura, afirmou sobre a nova geração de idealistas que “o motivo pelo qual eles terão mais sucesso nas coisas que sua geração não conseguiu é simplesmente esse: você”. Ele aludia ao fato de que os pioneiros não tiveram pessoas mais velhas que os precedessem nesse movimento para que pudessem aprender com seus erros. 

Mas ele também observa que “em todos os lugares onde vou, vejo a mesma coisa: jovens que aparentemente já nasceram entendendo coisas que a minha geração levou décadas de duro esforço para alcançar”.

Eu mesma pude presenciar esse fenômeno em diversos momentos na minha vida. Como coach, encontrei muitos jovens profissionais que me surpreenderam pois quando eu tinha a idade deles não chegava aos seus pés em conhecimento, responsabilidade e visão. 

É fato que hoje existe muito mais conhecimento acessível. Na minha casa tínhamos muitas enciclopédias (pessoal da Barsa, dá um alô aí) e em alguns volumes tínhamos acesso a um vasto conhecimento. Uns 20 livros. Quando meu pai, já bem idoso, queria que meus filhos usassem as enciclopédias, como explicar a ele a quantidade de conhecimento que agora temos ao nosso dispor em alguns cliques?

Mas será que as gerações são mais inteligentes (em todas as múltiplas inteligências – obrigada Howard Gardner) só porque o conhecimento está disponível? Me parece que não. A resposta se encontra na ideia de que, além das características biológicas, recebemos muito mais coisas de herança dos nossos pais. Essa ideia tem sido muito trabalhada na psicologia, e atualmente um ramo da ciência denominado epigenética tem estudado a fundo e rigorosamente a transmissão transgeracional de emoções e traumas.

A epigenética busca mostrar que essa transmissão acontece e porque acontece. Mas nós também podemos experienciar o evento simplesmente, empiricamente, e essa é uma das principais bases onde se apoia todo o trabalho de Constelações Familiares.

Quando vejo a jovem Greta Thunberg (na foto com Jane Goodall, hoje com 85 anos, ativista na proteção dos animais) liderando de forma tão incrível um movimento de transformação global, aos 16 anos, portadora de síndrome de Asperger, só posso estar convicta de que essa “inteligência” toda que está por trás do seu movimento particular não vem apenas do conhecimento da história e dos erros do passado. Ela já nasceu dentro dessa história, ela é essa história, a história faz parte dela. E isso é tão incrível e maravilhoso!   

E duro também, porque nem só de coisas boas a nossa evolução foi feita. A boa notícia é que curando a nossa história pessoal, nossos filhos não precisarão herdar a parte ruim, e as Constelações Familiares são um caminho efetivo nesse sentido.

Deixo aqui alguns links para quem quiser conhecer mais sobre a questão da epigenética e transmissão transgeracional.


Experimento indica hereditariedade de lembranças

Can Trauma Be Passed on through Our DNA?

Sabia que as emoções passam de geração em geração?

Vídeo: Memories can pass between generations through DNA


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Ser produtivo é bom? Para quem?

Tive uma carreira corporativa de sucesso. Graças a ela e à boa empresa em que trabalhei por 21 anos, consegui construir um patrimônio e cuidar bem da minha família.

Aos 49 anos, fui demitida e decidi não voltar ao mercado, dando início à minha carreira em coaching. Com toda a minha experiência, plano estratégico, marketing e vendas na mão, em pouquíssimo tempo já estava fazendo cerca de oito atendimentos por dia, numa rotina profissional até mais desgastante do que a anterior, pois cada atendimento exige 100% de atenção, sem qualquer descanso.

Meu querido amigo Jefferson, colega na faculdade de Direito, no topo dos seus 20 e poucos anos, falava para mim: “véia, pra que isso? Você não precisa.”

Para quem viveu tantos anos sendo extremamente produtiva, aquele questionamento era completamente sem noção. Como é possível vivermos sem buscar produtividade? Era exatamente isso o que eu mais trabalhava com os meus coachees. Ser produtivo é produzir mais resultados com o melhor aproveitamento dos recursos em qualquer aspecto da vida.

Mas, como as grandes lições vêm de onde menos se espera, Jefferson tinha muita razão. E o primeiro ponto que eu tive que questionar era o que realmente eu precisava.

Segundo Charles Eisenstein (em “O mundo mais bonito que nossos corações sabem ser possível”), se mantivermos a nossa estrutura de referência, não será possível fazer as transformações necessárias para um mundo melhor (melhor? Mais bonito? Mais?).

Tempo é dinheiro; ficar parado não é produtivo; acumulação é necessária; tecnologia é necessária para uma vida melhor; ser eternamente jovem; envelhecer produtivamente; ter sucesso. Quantas ideias bombardeadas diariamente nos levando à frustração e exaustão.

A partir de reflexões profundas, ainda estou no meio do caminho. Já decidi que não preciso de mais nada material além do que já tenho. E que agora, para mim, a única abundância que existe é a de tempo. Poder gastar um imenso tempo para fazer algo que me dá prazer e que aparentemente não é produtivo, como levar duas horas e meia para comprar a manteiga de amendoim perfeita para meu filho.

Recebi minha amiga Michelle em Lisboa outro dia, e fizemos um passeio pelas praias e arredores, envolvendo vários trechos de transporte público (metro, comboios e autocarros). Deu tudo muito certo e ela comentou: como fomos produtivas! E rimos muito, pois a tal da produtividade não nos deixou em paz nem no passeio. Já fazendo outro passeio com minha amiga de mais de 20 anos Teresa, conversávamos tanto que erramos o caminho; sentamos calmamente e seguimos conversando enquanto tentávamos nos orientar pelos aplicativos. Perdemos um dos pontos do passeio planejado – e tudo bem. Foi um ótimo dia para estarmos juntas e viver nossa amizade.

Cuidado para o lobo em pele de cordeiro: muitas empresas estão oferecendo programas que aparentemente melhoram a qualidade de vida, mas que na verdade estão preparando os funcionários para aguentarem mais a pressão e produzirem ainda mais, o que pode ter como consequência prejuízos para a sua saúde mental.

Nesse sentido recomendo o ótimo artigo “Como o capitalismo capturou a indústria do mindfulness”.

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Coco Mademoiselle Chanel e a história de como um perfume pode salvar o dia

“Subsunção” é um termo do Direito que significa a aplicação da norma ao caso concreto, ou seja, quando trazemos do conceito para a realidade. Essa ação não é trivial. Muitas vezes estamos frente a um caso e precisamos decidir do que se trata para buscar no ordenamento jurídico aquilo que é cabível aplicar.

De uma forma geral, gosto de apresentar situações do cotidiano ou de filmes para explicar conceitos mais detalhadamente e trazê-los para o mundo real do dia-a-dia. Voltando ao filme “Privacidade Hackeada” (2019) que já foi tema em outro post – Privacidade Hackeada e o triângulo da ética – vou falar novamente da figura para mim mais fascinante de toda a história: Brittany Kaiser.

Em um momento do filme ela está muito nervosa, empreendendo quase uma fuga. Nessa hora, ela pega o seu perfume Coco Mademoiselle Chanel, aplica em si mesma e diz: “Coco Mademoiselle me faz sentir melhor.”

HÁ!

Minha curiosidade aromaterapêutica foi imediatamente ativada: o que será que Coco Mademoiselle tem para ter esse efeito?

Já expliquei no post “Estabelecendo uma espiral positiva de emoções” como o aroma funciona para esse aspecto: quando respiramos profundamente um óleo essencial, a fragrância natural é processada no sistema olfativo do cérebro através do nervo olfativo. O sistema olfativo conecta-se ao sistema límbico do cérebro, onde as emoções e as memórias (individuais e coletivas) vivem, o que cria uma resposta emocional.

Pesquisado a composição do perfume, encontrei que ele têm “notas de topo de bergamota e laranja; um coração de jasmim e ‘pétalas de rosa da manhã‘; e uma base de patchouli, vetiver, baunilha e almíscar branco.”

Corri no meu app Modern Essential Plus para pesquisar a influência aromática de cada um desses óleos essenciais:

Bergamota: Alívio da ansiedade, depressão, stress e tensão. É refrescante e inspirador.

Laranja: Calmante e inspirador para corpo e mente

Jasmim: É muito inspirador para as emoções e pode ajudar a aumentar a intuição e sabedoria. Também pode ajudar a promover relações inspiradoras e poderosas.

Rosa: Estimula e eleva a mente, criando um sentimento de bem-estar.

Vetiver: Alívio do stress e suporte na recuperação de choque e traumas emocionais; tranquilizante natural, induz a um sono reparador.

Patchouli: sedativo, calmante e relaxante, ajuda a reduzir a ansiedade. 

Bem, já deu para entender por que Coco Mademoiselle Chanel tem esse efeito sobre Brittany e é um dos mais queridos perfumes da atualidade, certo?

O meu creme hidratante favorito é o Karma, da Lush. E ele contém o que? Laranja, patchouli e pinheiro (cria o sentimento de segurança e aterramento).

Qual o seu aroma favorito? Quer descobrir por quê? Já conhece o poder dos óleos essenciais para sua saúde e emoções?

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Privacidade Hackeada e o triângulo da ética

Hoje foi dia de assistir “Privacidade Hackeada” (The Great Hack), documentário original da Netflix sobre a interferência da Cambridge Analytica em processos eleitorais.

Dentro de tudo o que se pode discutir sobre tão intenso documentário, o aspecto que quero trazer para a discussão é o que eu chamo de “triângulo da ética”, que aprendi como sendo o “triângulo da fraude”. Para isso vou colocar o foco na pessoa da ex-diretora sênior Brittany Kaiser.

Brittany Kaiser é sem dúvida alguma uma jovem muito, muito inteligente e capacitada. Trabalhou em eleições desde os 14 anos e durante muitos anos trabalhou em organizações para a defesa dos Direitos Humanos.

Em 2014 foi contratada pela Cambridge Analytica e todo o seu conhecimento e capacidade foram aplicados de uma maneira que podemos resumir como, no mínimo, sórdida. 

O que aconteceu com Brittany? Alguns apressados já vão responder que o dinheiro falou mais alto – e é verdade. Mas vamos olhar com mais detalhe a partir do “triângulo da ética”?

Tenho visto algumas definições diferentes do triângulo da fraude, mas vamos ficar com a que eu aprendi no meu MBA em Gestão da Segurança Empresarial: motivação, meios e oportunidade.

Por que decidi chamar o triângulo da fraude de triângulo da ética? Porque o mecanismo é o meio. Falhamos eticamente ou aplicamos um golpe quando esses três fatores se encontram: o motivo para cometer o ato, o meio para executá-lo e a oportunidade de agir.

O que foi que mudou essencialmente em Brittany? Quando ela aceitou trabalhar para a Cambridge Analytica, os meios e a oportunidade estavam lá. Porém, ela já trabalhava com essas ferramentas em outras ocasiões e não fez esse uso extremo das mesmas. Essas circunstâncias não seriam nada sem o terceiro fator: a motivação. Sim, a motivação foi que eles pagaram o que ela queria, mas porque ela queria aquele montante tão grande que foi recusado por outros possíveis contratantes?

Porque sua família quebrou na crise de 2008, perderam a casa em 2014 e o pai fez uma cirurgia no cérebro que o incapacitou a trabalhar. Num país como os EUA, sem nenhuma proteção social, o destino da família era a rua e a indigência. 

Depois de todo o mal feito, ela se arrependeu e tornou-se importante colaboradora na investigação dos crimes e mudanças na legislação de proteção de dados. Eventualmente a sua moral original pôde voltar à tona agora que a família estava segura com todo o dinheiro que ela com certeza ganhou. 

O que me traz a valiosa definição de Mario Sérgio Cortella: Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três grandes questões da vida: (1) quero?; (2) devo?; (3) posso? Nem tudo o que eu quero, eu posso; nem tudo que eu posso, eu devo; e nem tudo que eu devo, eu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o que você deve.

De resto, vejam o documentário. Excelente e necessário.

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Ainda o quarto de Jack: os pequenos não podem salvar os grandes

O filme “O quarto de Jack” é uma riqueza de situações a serem olhadas do ponto de vista sistêmico. Para melhor aproveitar este texto você deve ter lido os dois anteriores sobre o filme (O quarto de Jack e a primeira lei sistêmica e O quarto de Jack e a segunda lei sistêmica).

Voltando à primeira lei sistêmica, da hierarquia ou ordem de chegada, é fundamental que seja respeitada a hierarquia entre pais e filhos no sistema, os grandes e os pequenos.

Em um momento do filme, Joy tenta se suicidar e é internada. Jack, que tinha um cabelo muito longo, não quis cortá-lo anteriormente porque entendia que dele vinha a sua força. Longe de sua mãe por conta da internação, pede à avó que corte seu cabelo para levar para sua mãe. Assim, sua força poderia se tornar a força da mãe.

NÃO, NÃO, NÃO!

O pequeno NÃO pode carregar o destino de salvar o grande. Essa tarefa é enorme para ele e tal carga não pode recair sobre seus ombros. A terceira lei sistêmica, o equilíbrio entre dar e receber, tem uma exceção: o movimento de pais para filhos. Os pais sempre dão e os filhos irão retornar esse fluxo quando tiverem seus próprios filhos.

Quando Joy volta para casa, diz a Jack que ele a salvou duas vezes. Como a criança se sente nesse momento? Ela sente que tem uma mãe que não é capaz de se defender e que este é o seu trabalho. Como essa criança poderá sair para a vida, criar autonomia em relação ao seu sistema de origem e criar o seu próprio sistema familiar saudável?

Para consolidar o que estou apresentando, Jack pergunta se podem voltar para o quarto, porque no quarto a mãe estava o tempo todo com ele. 

Toda essa história é por demais dolorosa. O olhar sistêmico com as leis do amor nos permite honrar cada um com sua história e seu destino, buscando dar o lugar devido a todos.

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O quarto de Jack e a segunda lei sistêmica

Se você ainda não leu o nosso texto sobre o quarto de Jack e a primeira lei sistêmica, é importante efetuar a leitura para entender todo o contexto.


AVISO: continuamos com spoilers.


Em um outro momento do filme, quando a família se reúne para o jantar após a libertação de Joy e Jack, estão presentes, além dos dois, a avó e o avô de Jack e o marido da avó. Nesse período de 7 anos de cativeiro de Joy, o casal se separou e a avó iniciou uma nova relação.

No decorrer do jantar, o avô vai ficando ansioso e decide subitamente encerrar sua refeição e se retirar. Joy percebe que tem algo errado e que ele insiste em não olhar para Jack. Ela pede que ele olhe para a criança, mas ele não consegue e se retira.

Em que mundo de emoções e confusão estava esse avô inserido! Ao olhar para Jack, ele reconhecia o raptor e estuprador de sua filha, afinal o menino é metade a mãe, metade o pai. Quanto da sua própria impotência não estava ali sendo jogada na sua própria face? Que espelho maldito a lhe mostrar o quanto foi um pai incapaz de proteger sua filha de todos os horrores que passou.

E o que faz o avô nessa hora? Exclui. Exclui da sua vida o neto, o pai do neto, a filha.

E é aí que trazemos a segunda lei sistêmica de Bert Hellinger: o pertencimento. Quem pertence ao sistema? Todos pertencem. Os excluídos têm que ser trazidos de volta, pois independente do motivo que os levou à exclusão, eles continuarão tendo o direito de pertencer ao sistema familiar. Isso não significa isenção de repreensões, restrições e até de punições legais. As atitudes dessa pessoa podem diminuir sua credibilidade, confiabilidade e até sua proximidade perante a família, mas nunca o seu pertencimento.

O que é excluído no passado, surge novamente em gerações posteriores, para que a dor possa ser vista e deixada… Assim, todo o sistema se alivia. Para que isso ocorra, alguém inconscientemente se coloca à disposição de sofrer na própria pele para que a harmonia seja reestabelecida. É lógico que, conscientemente, ninguém deseja sofrer. Mas a força do sistema é sempre maior do que a vontade individual.

No caso em questão, a atitude do avô pode fazer com que essa situação se repita no futuro com outros membros da família, ou o próprio evento que aconteceu à Joy pode ser reflexo de exclusões passadas. Mas muitos não estarão prontos para enfrentar essa situação com amor. Com confronto ou esquecimento irão perpetuar o mecanismo, gerando mais e mais violência para os descendentes. Até que, em algum momento, alguém consiga olhar finalmente para todos os lados: o abusador, o abusado e o sistema que os levou a se encontrarem numa situação de ajuste.

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O quarto de Jack e a primeira lei sistêmica

Ontem assisti “O quarto de Jack” (Brasil) ou “O quarto” (Portugal). É um filme (2015) dirigido por Lenny Abrahamson e escrito por Emma Donoghue, baseado em seu livro homônimo. É estrelado por Brie Larson (ganhou o Oscar de melhor atriz pela interpretação de Joy) e Jacob Tremblay (no papel de Jack).


AVISO: temos spoilers daqui para frente.


Jack foi fruto de estupro continuado perpetrado pelo “Velho Nick” durante anos de cárcere privado impingido a Joy, capturada com 17 anos e mantida em uma cabana no quintal, completamente hermética, iluminada por uma claraboia. Jack nasceu ali mesmo e quando o filme começa ele já tem 5 anos.

Chega o momento em que Joy, confiando na capacidade do filho adquirida com a idade, consegue engendrar um plano que os tira dali. Não vou dar mais detalhes a respeito porque não interessa para o tema que quero abordar. Vejam o filme que é ótimo.

Em um momento seguinte, ela dá entrevista exclusiva para uma rede de TV na qual acontece o seguinte diálogo:


Apresentadora: Quando Jack for mais velho, o que contará sobre o pai dele?

Joy: Nada. Não é dele. Um pai é um homem que ama seu filho.

Apresentadora: Isso é muito verdade, mas a relação biológica que teve… (é interrompida)

Joy: Isso não é uma relação. O Jack não é de mais ninguém. Só meu.


Pausa para uma reflexão importante: sistemas tendem ao equilíbrio, mesmo que esse equilíbrio seja doente, disfuncional. Mesmo frente a situações muito dolorosas, independente das ações que sejam tomadas no aspecto legal, a cura efetiva do sistema (equilibrado e saudável) só virá da compreensão sobre como as leis sistêmicas foram violadas, seus efeitos e respectiva cura. Na medida em que avançarmos nos textos sobre as leis sistêmicas, isso fica cada vez mais claro. Para quem tem interesse no tema, indico o artigo “Pais difíceis não deixam de ser nossos pais“, da consteladora Ana Garlet.

A situação trazida pelo diálogo acima nos remete à primeira lei sistêmica de Bert Hellinger: a Ordem de Chegada ou Hierarquia, que diz respeito a quem chegou primeiro na família. Portanto, os ascendentes merecem ser olhados com muito respeito e cuidado, pois foi através deles que a família veio se mantendo.

Quando não aceitamos nossos pais como eles são, todo o sistema sofre. Eles chegaram primeiro e merecem ser respeitados. Quando queremos modificá-los, perdemos força na vida.

Não se trata aqui de perdoar, mas sim de olhar profundamente para esse ancestral e entender que dali veio a sua vida, e nisso todos os pais e mães são perfeitos. Cada pessoa tem sua história e seu destino que não cabe aos descendentes julgar. É importante a compreensão de que aquela história e destino não nos pertence, e desta forma tomar a nossa vida e seguir em frente.

Joy acha que é por amor que não dará conhecimento sobre o pai a Jack. Mas essa não é a atitude que pode trazer cura para Jack e o sistema familiar. Jack só poderá se tornar um adulto saudável se integrar com amor essa paternidade difícil. Vamos conversar sobre os efeitos da exclusão dessa paternidade no próximo texto do blog, olhando sobre o prisma da segunda lei sistêmica.

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Onde está o seu coração?

Fazer perguntas é uma forma muito eficiente de ajudar uma pessoa a se organizar e trazer mais consciência sobre as questões.

Nos processos de coaching é a técnica mais utilizada, daí se falar em “perguntas poderosas”, porque a pergunta certa é fundamental para que se encontre a resposta procurada. As perguntas poderosas ampliam o horizonte e encorajam à ação.

No livro “Ei! Tem alguém aí”, de Jostein Gaarder, o visitante do espaço Mika sempre agradecia por uma boa pergunta – e pela oportunidade de formular uma boa resposta. Incorporei esse hábito ao meu cotidiano e quando alguém me faz uma pergunta muito boa, imediatamente eu agradeço pela mesma.

Para escrever este texto, consultei meu livro de técnicas e ferramentas de coaching e lá encontrei mais de uma centena de sugestões de perguntas poderosas para aplicar ao processo com o coachee.

Mais de uma centena! Mas a mais poderosa de todas não estava lá.

“Onde está seu coração?”, ouvi de Marianne Franke-Gricksch num workshop de Constelações Familiares e Sistêmicas no Porto, em junho de 2019. Em resposta à minha questão, essa pergunta da pedagoga, professora, educadora e terapeuta alemã – uma das maiores especialistas em Pedagogia Sistêmica do mundo – me jogou em um turbilhão de emoções e pensamentos. Ela queria saber quem realmente estava fazendo a pergunta: o indivíduo, a mãe, a terapeuta… Por que aquela questão era importante para mim? Só depois de saber isso ela poderia me responder, e a resposta era para mim, somente para mim.

Onde está seu coração? Quando desenvolvia processos de coaching, eu dedicava uma sessão inteira para dissecar o objetivo do coachee e por que esse objetivo era importante para ele. Não é incomum que desenhemos objetivos achando que vamos alcançar um determinado resultado e, mesmo atingindo o objetivo, o benefício esperado não era realmente aquele. Olho agora em retrospecto e fico pensando: não teria sido muito mais simples perguntar simplesmente “onde está seu coração”?

Convido você a fazer este exercício. Frente a uma questão, um problema, uma angústia, pergunte a si mesmo: onde está meu coração? E deixe-se levar profundamente nessa viagem.

Quer conversar sobre isso? Já marcou sua conversa sistêmica?

Estabelecendo uma espiral positiva de emoções


Em uma sessão de coaching em setembro de 2018 eu conversava com uma coachee sobre como estabelecer uma espiral positiva de emoções. A maneira mais fácil de entender o que é uma espiral positiva de emoções é olhar para o que é uma espiral negativa de emoções.

Eu sempre insisto nesse ponto: OS FATOS SÃO NEUTROS. Eles adquirem significado apenas quando pensamos sobre eles e, de acordo com o nosso modelo mental ou modelo de mundo (e também com todo o nosso mecanismo inconsciente), teremos um sentimento sobre esse fato que desencadeia numa ação.

Algumas pessoas, a partir de um fato, iniciam uma espiral de pensamentos negativos que vão gerando uma espiral de sentimentos negativos e prováveis ações negativas (para a própria pessoa). E isso muitas vezes é simplesmente um costume. É o caminho que o seu cérebro estabeleceu para lidar com essas situações.

Como podemos fazer para o cérebro parar de usar esse caminho e começar a abrir um outro mais positivo?

Em primeiro lugar é preciso entrar em estado de atenção para perceber que se está entrando no caminho errado. E aí parar. Parar e pensar: por que estou pensando assim? Existe outra forma de pensar mais positiva? Não se trata de se enganar, mas de ver alternativas e eventualmente até a inutilidade daquele tipo de pensamento. Aos poucos, com essa prática, vamos estabelecendo uma nova forma de lidar com as situações e parando de entrar em espiral negativa.

Não é um trabalho fácil. Exige muita atenção e disciplina.

Aí terminei a sessão de coaching e à noite fui assistir à uma palestra sobre “óleos essenciais e as emoções”. Qual não foi a minha surpresa ao assistir o palestrante falar especificamente em estabelecer uma espiral positiva de emoções. Ele explicou o mecanismo do surgimento das emoções exatamente como eu havia feito de manhã (o que gerou, claro, identificação e credibilidade imediata – rs).

Porém ele estava trazendo um novo caminho para a reversão destes estados emocionais, e curiosamente não passava pelo trabalho árduo e disciplinado. O caminho era por meio do AROMA! Ele mostrou que ao sentir um determinado aroma, os nossos terminais olfativos levam a informação diretamente ao cérebro e despertam MEMÓRIAS AFETIVAS, individuais ou coletivas, que IMEDIATAMENTE, sem qualquer mediação do pensamento, nos jogam para estados emocionais (positivos ou negativos).

Pensem em alguém com o queixo literalmente caído. Euzinha. E foi assim que a aromaterapia entrou para a minha vida, como apoio ao processo de transformação em programas de coaching e constelações sistêmicas. Sair de um estado emocional negativo é muito difícil. Existe uma inércia enorme no início. Entendi que a aromaterapia pode ajudar esse trabalho consciente, levando a pessoa para esses estados emocionais com maior facilidade. Nesse sentido, entendo a aromaterapia como auxiliar no processo.

Responde aí para mim: qual cheiro para você remete à alegria?

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